Cá dentro inquietação, inquietação...
O Apelo por Valentina
Setembro marcou o início de mais um ano letivo. Um momento de renovação, de oportunidades e, acima de tudo, de agir. Foi nesse contexto que um e-mail foi enviado, e terminava carregado de esperança e desespero:
"Ela precisa de todos os apoios previstos. Por favor – ajudem-na. Não desistam de nós!"
O tempo passou, e a resposta não veio.
Uma Chamada à Ação Ignorada
Outubro trouxe novas inquietações. Após uma reunião com a PTT, outro alerta foi enviado:
"A Valentina tem documentos formais que permitem pedir apoio adicional. É preciso apoio na sala do primeiro ano, sob pena de, além de perdermos a Valentina, perdermos a coesão da turma. Sei que a Prof. Cooord. EMAEI quer que compreenda e tenha paciência – mas É URGENTE garantir um apoio permanente à sala da primeira classe!"
A situação era clara, mas a ação tardava. A Prof. Cooord. EMAEI havia informado que o RTP estaria pronto no final de novembro. Mas… e até lá? O tempo não esperava.
Em novembro, novo esforço: mais um documento, mais uma tentativa. A pergunta era simples, quase um grito sufocado:
"Já foi formalizado o pedido para que a Valentina tenha um técnico de referência a acompanhá-la permanentemente? Há algo que possa fazer?"
Dezembro chegou, e com ele, o balanço do primeiro trimestre. A constatação era dura: um trimestre perdido. O RTP não existia, a Valentina continuava sem o acompanhamento necessário e, apesar das recomendações da psicóloga e da pedopsiquiatra, continuava sentada no fundo da sala.
A conclusão foi direta:
"Precisamos de estratégias adequadas ao perfil da Valentina. O ideal seria uma reunião de trabalho conjunta para definição de medidas concretas."
Diálogo ou Julgamento?
Janeiro trouxe uma convocatória para reunião. Um fio de esperança surgiu – finalmente, uma oportunidade para diálogo. Mas, ao invés disso, o que aconteceu foi um julgamento.
A confiança na escola, vista como parte integrante da equipa, sofreu um golpe. Na altura, não se percebeu a gravidade do que estava a acontecer. Perguntas foram feitas, foi pedida uma ata. E só ao lê-la se percebeu a verdadeira dimensão da situação: factos reais, mas mal interpretados; afirmações e intenções questionáveis.
Ainda assim, a esperança persistia. Uma nova reunião foi marcada com o diretor do AE, onde se reafirmou o compromisso de trabalho em equipa. Acreditou-se, por um momento, que as coisas poderiam melhorar.
O Ciclo da Frustração
Mas algo continuava a não fazer sentido. A comunicação tornou-se um labirinto sem saída. O silêncio da escola impôs-se como uma muralha intransponível.
A pergunta ecoava constantemente: porquê?
"Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda."
Em fevereiro, mais uma tentativa. Seguiu-se o conselho dado: tentou-se articular melhor, comunicar com mais frequência, compreender os progressos e dificuldades da Valentina para ajudar da melhor forma possível. Mas, em vez de acolhimento, houve indiferença por parte de uns, e uma resposta agreste.
As mensagens não foram bem recebidas. Terão sido, até, ignoradas?
Agora, estamos em março. Dois terços do segundo trimestre já passaram. O e-mail enviado em dezembro continua sem resposta.
Ignorado.
Tal como a Valentina?
Essa dúvida crava-se no coração.
Por que razão este silêncio? Por que não há diálogo? Como pode uma escola ignorar a angústia de pais que apenas querem ajudar a filha a ter um futuro?
Uma Criança Não Pode Esperar
Não há respostas, apenas dúvidas. Que princípios regem estas decisões? O que justifica esta ausência de ação?
A Valentina precisa da colaboração da escola para progredir academicamente. Mas, ao que parece, essa necessidade não tem sido suficiente para mobilizar quem deveria agir.
O apelo, então, repete-se, como uma súplica: pelo menos expliquem. Pelo menos falem. Pelo menos permitam compreender.
Na semana passada, ocorreu uma reunião com técnicos da UISE (DGEST). Talvez agora se consiga melhorar os recursos e as condições de trabalho para a Valentina. Talvez agora algo mude.
Mas o tempo não perdoa. O ano letivo já está perdido, e a Valentina continua a crescer.
Cada dia desperdiçado é um dia que não volta.
A infância é breve. E as oportunidades para ajudá-la também.
Já não há mais palavras que possam expressar a urgência desta situação. Assim, resta apenas repetir o apelo de setembro, na esperança de que, desta vez, seja ouvido:
"Ela precisa de todos os apoios previstos. Por favor – ajudem-na. Não desistam de nós!"
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