Pregar aos Peixes
No passado recente escrevi duas peças sobre a Valentina e criei este Blog, cujo nome se inspirou num evento intitulado "Conversas à volta do tanque".
Assim que desenhei o círculo em torno da secretária que atribuíram à Valentina na sala de aula, ocorreu-me a ideia do tanque e das conversas. Rapidamente surgiu o tema "Conversas em torno da Valentina".
A primeira peça foi escrita com sangue e vai ser publicada a breve trecho num jornal diário.
A segunda peça é um artigo de cariz científico que foi submetido para publicação numa revista de investigação em ciências sociais. Este artigo explora o papel da educação inclusiva na promoção da cidadania e da paz nas escolas. O estudo examina os princípios e os fundamentos teóricos da educação inclusiva, destacando a sua importância crítica. Para além disso, utiliza o Plano Individual de Intervenção Precoce de uma criança neurodivergente, como estudo de caso, e discute desafios estruturais e aspetos chave como abordagens multidisciplinares, formação de professores e tecnologias de apoio. Por fim, o estudo oferece recomendações práticas para educadores e decisores de políticas públicas para construir comunidades escolares equitativas e democráticas, defendendo abordagens abrangentes que garantam o envolvimento ativo e o progresso académico de todos os alunos, incluindo aqueles com necessidades educativas especiais.
E porque não fiquei por aqui? Pensei: Perdido por 100, perdido por 1000. Entrei em modo Sermão de Santo António aos Peixes. Já que quem deve não me ouve, falo para quem quiser ouvir... simples, não é? Por outro lado, pode ser que mais alguém viva situações semelhantes às reportadas nas Conversas em torno da Valentina. E, ao ler, se sinta menos só.
Eis o Blog.
"Pregava Santo António em Itália, na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e, como erros de entendimento são difíceis de arrancar, não só o santo não fazia fruto, mas chegou o povo a levantar-se contra ele, faltando pouco para que lhe tirassem a vida. Que faria, neste caso, o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha noutro lugar? Mas António, com os pés descalços, não podia fazer esse protesto; e uns pés a que nada da terra se pegou não tinham que sacudir. Que faria então? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria, porventura, a prudência ou a cobardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes opções. Pois que fez? Mudou apenas o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai às praias; deixa a terra, vai ao mar e começa a dizer em altas vozes: Já que os homens não me querem ouvir, ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes d'Aquele que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e, postos todos por sua ordem, com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam."
Excerto do Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira
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